INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição das palavras santificação e ética, e a
sua importância na vida cristã, como marca da
ação do Espírito; pontuaremos o alcance desta santidade na vida do crente salvo; e,
por fim, elencaremos características de uma vida comprometida com a ética do Espírito Santo.
I – DEFININDO OS TERMOS
1.1
Santificação. A expressão santificação advém do latim “sanctificatio” que quer dizer: “separação do mal e do pecado, e
dedicação ao serviço
do Reino de Deus”. É a forma
pela qual o filho de Deus é aperfeiçoado à semelhança do Pai Celeste (Lv 11.44) (ANDRADE, 2006, p.
326). No NT o termo usual para santificação é: “hagiasmos” que
significa: “consagração, separação”. Refere-se ao processo que leva o crente a tornar-se uma pessoa dedicada,
santa, separada, única e exclusivamente para Deus;
consiste na transformação moral segundo a imagem de Cristo (2Co 3.18).
1.2
Ética. A palavra “ética” no grego “ethos”
significa: “conjunto de costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do
comportamento e da cultura, característicos de uma determinada coletividade,
época ou região” (HOUAISS, 2001, p. 1271). A ética cristã, segundo Andrade (2006, p. 173 –
acréscimo nosso) “é o conjunto de princípios baseados nas Sagradas Escrituras,
principalmente nos ensinos de Cristo e de seus apóstolos, cujo objetivo é orientar
a conduta do cristão enquanto membro de uma sociedade politicamente organizada”.
Desse modo, a ética do Espírito, diz respeito ao estilo de vida, a conduta do
crente, que é marcada pela santificação, uma das principais atuações do
Espírito Santo no cristão.
II – O ESPÍRITO SANTO E A SANTIFICAÇÃO
2.1
A santidade do Espírito Santo. Assim como Deus
é santo (1Pd 1.16); Jesus é santo (At 2.27), o Espírito também o é (Sl 51.11;
Is 63.10,11; Mt 1.18,20; 3.11;
Lc 1.35; Jo 14.26; 1Ts 4.7-8). A expressão Espírito
Santo vem do hebraico: “ruah kadosh” e do grego: “pneuma
hagios”. É chamado de Espírito Santo porque Sua obra principal é a
santificação (Jo 3.5-8, 16.8; Rm 15.16;1Co 6.11; 2Ts 2.13; 1Pd 1.1,2). Um
adjetivo muito comum, para indicar o Espírito de Deus, é “santo”, e no AT este
título ocorre três vezes (Sl 51.11; Is 63.10,11). Porém, no NT, a expressão
“Espírito Santo” ocorre por mais de 90 vezes, mostrando que, uma das suas
principais ações na vida do crente é a santificação: “Declarado Filho de Deus em poder, segundo
o Espírito de santificação [...]” (Rm 1.4).
2.2
A ética do Espírito Santo.
Sobre a conduta
do cristão o apóstolo afirmou:
“Portanto, agora nenhuma
condenação há para os que estão
em Cristo Jesus, que não andam segundo
a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.1). Nessa nova vida,
os homens precisam viver de forma diferente do que viviam na antiga (Ef
4.17-30). Se antes costumavam praticar as obras da carne, agora, devem agir na
vontade do Espírito de Deus. A expressão “andar” fala de procedimento, modo
de vida, práticas, obras. Para o apóstolo, não basta dizer que está em
Cristo, é preciso evidenciar isto, andando no Espírito (Gl 5.16,18,25).
III – A IMPORTÂNCIA DE UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO
3.1 O processo de santificação na vida do salvo. A Bíblia mostra claramente a necessidade de vivermos uma vida santa
por meio de várias exortações (Rm 13.13,14; Ef 4.17-24; Fp 4.8,9; Cl 3.5-10;
1Ts 4.3). No processo da santificação progressiva o homem não é de todo
passivo como na regeneração, antes, os cristãos recebem a ordem de mortificar
os desejos da carne (Rm 8.13),
nesse texto, Paulo indica que é pelo Espírito que fazemos isso, porém, diz que a atitude é nossa
(Cl 3.5). A responsabilidade do crente quanto à santificação, é destacada pelo
escritor aos Hebreus (Hb 12.14-a), ao usar o termo “segui”, do grego “dioko”,
que significa: “perseguir, pressionar, correr após, esforçar-se por”,
(CHAMPLIN, 2002, p. 647). Sobretudo, a necessidade de uma vida santa é vista ao
afirmar que: “[…] sem a santificação ninguém verá ao Senhor” (Hb 12.14-b),
ficando claro que os que se moldam às paixões da carne e do mundo, tornam-se
reprováveis diante de Deus, não podendo estar em sua presença (Sl 15.1-5;
24.1-3; Mt 5.8; Gl 5.19-21; Ap 21.8; 22.14,15).
IV – A ABRANGÊNCIA DA SANTIFICAÇÃO
4.1 A santificação como marca de uma vida guiada pelo Espírito. Para um cristão cuja vida é consagrada a Deus, a divisão entre “secular” e “sagrado”, em certo sentido não são duas coisas diferentes. Ao viver para a glória de Deus, a vida do servo de Deus em todos os aspectos deve ser marcada pela santidade, como exorta o apóstolo Pedro: “[…] em toda a vossa maneira de viver” (1Pd 1.15; ver Sl 103.1; 1Ts 5.23). Nenhum aspecto da nossa vida está excluído desse imperativo divino, até mesmo atividades comuns, como comer e beber, devem ser realizadas para a glória de Deus, como afirma o apóstolo Paulo: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Co 10.31). Semelhantemente o apóstolo Paulo nos encoraja a nos manter puros no corpo e no espírito (2Co 7.1; ver 1Co 7.34). Sendo assim, nosso procedimento deve resplandecer o caráter de Deus, a santidade daquele que nos chamou por Seu Filho para a salvação (Rm 8.29; Ef 1.4) (LOPES, 2012, p. 50 – acréscimo nosso).
V – RAZÔES PARA UMA VIDA DE SANTIFICAÇÃO
5.1
A santidade de Deus (1Pd 1.16). Santidade
tanto no AT como no NT, é atributo que no seu sentido mais elevado e absoluto, se aplica a Deus. O Senhor é descrito como “o Santo de Israel”. Esse título aparece
cerca de vinte
e quatro vezes no livro do profeta Isaías (Is
10.20; 12.6; 17.7; 29.19; 30.11,12,15; 31.1; etc), aparecendo também em outras
partes das Escrituras (2Rs 19.22;
Jó 6.10; Sl 71.22; 78.41;
89.18; Pv 9.10; 30.3; Jr 50.29; 51.5; Ez 39.7;
Hc 1.12; 3.3), tal título
indica entre outras coisas,
o fato de Deus estar
separado da criação
e de estar elevado acima
da mesma (At 17.24,25), como também
alude ao contraste com os deuses falsos (Êx 15.11). O Senhor nos chamou para
si, e uma vez que ele é Santo (Lv 11.44; Is 6.3; 1Pd 1.15,16), devemos ser
santos (Ef 1.14).
5.2
A salvação em Cristo Jesus (1Pd 1.14,15). O
apóstolo Pedro lembra a seus leitores de como eles viviam antes de crerem em Cristo: “[…] não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância” (1Pd
1.14) e destaca o que eles passaram a ser pela revelação da graça divina
em suas vidas (1Pd 1.13), por meio da fé em Deus (1Pd 1.21), como Pedro declara
(1Pd 2.9,10). O fato de terem sido resgatados da vã maneira de viver (1Pd
1.18), pelo precioso, imaculado e incontaminado sangue do Cordeiro,
Jesus Cristo (1Pd 1.18,19), tendo a purificação e regeneração pela ação do Espírito Santo por meio da Palavra
(1Pd 1.22,23). Portanto,
a exigência divina
é: “[…] sede vós também
santos […]” (1Pd 1.15). Lembrando ainda que: a
santidade não é o meio para se obter a salvação, mas, podemos afirmar que é a
consequência dela.
5.3
Uma característica do autêntico filho de Deus (1Pd 1.17). A santidade é a marca característica de um verdadeiro servo de Deus,
tanto no AT, pois, o caráter santo de Deus deveria ser refletido na vida de
Israel (Lv 11.44; Nm 15.40), como no NT, onde nos é dito que a nossa santificação é a vontade
direta e perfeita
de Deus para nós (1Ts 4.3). A afirmativa
bíblica é que os salvos são filhos de Deus (Rm 8.16), sendo assim, temos aqui
um argumento lógico e simples, os filhos herdam a natureza dos pais, logo,
sendo Deus Santo, como seus filhos, devemos ter uma vida santa. Somos
participantes da natureza divina e devemos revelar essa natureza em uma vida
piedosa (2Pd 1.4).
VI – CARACTERÍSTICAS DE UMA VIDA COMPROMETIDA COM A SANTIFICAÇÃO
Segundo
Pearlman, são meios divinamente estabelecidos para a santificação do homem: “o
sangue de Cristo (Hb 10.10,14; 13.12; 1Jo 1.7), a Palavra de Deus” (Sl 119.9; Jo 17.17; 15.3; Ef 5.26; Tg 1.23-25; 1Pd 1.23) e, o Espírito
Santo (1Co 6.11; 2Ts 2.13; 1Pd 1.1,2; Rm 15.16) e (2009,
pp. 255,256 – acréscimo nosso), que
atuam interna e externamente. Notemos algumas características relacionadas a
uma vida santa:
6.1
Desprendimento (1Pd 1.13-a). Os povos do
oriente usavam túnicas longas, e quando desejavam andar mais rápido ou sem
impedimento, prendiam a túnica com um cinto (Êx 12.11).
A imagem é a de um homem que prende
as pontas do manto
a seu cinto, ficando livre, assim, para correr. Aos que desejam viver uma vida
piedosa, devem se abster de tudo que sirva de
atrapalho em sua caminhada: “[…] deixemos todo o embaraço,
e o pecado [...]” (Hb 12.1), evitando qualquer
distração que impeça a sua conduta (2Tm 2.4), ocupando a mente com o que
de fato é puro (Fp 4.8).
6.2
Obediência e reverência (1Pd 1.14,17). Antes
da conversão a Cristo o homem por natureza, é filho da desobediência (Ef 2.2).
O apóstolo Pedro ressalta que agora, após a experiência da salvação, não
podemos mais viver nas práticas do passado que determinavam o nosso modelo de vida (1Pd 1.14,15);
“não vos amoldeis” significa não entrar no esquema,
no modelo. Originalmente, a palavra significava assumir a forma de alguma coisa, a partir de um molde de encaixe,
os cristãos são chamados
a “mudar de forma”, e a assumir
o padrão de Deus (Rm 12.2), vivendo
respectivamente de maneira
reverente, ou seja, tendo a atitude de quem fala cada palavra, cumpre
cada ação e vive cada momento consciente de Deus tendo consciência de que
nossas atitudes serão julgadas pelo justo juiz (Dt 10.17; Rm 2.11; 1Pd 4.17).
6.3
Amor sincero (1Pd 1.22). A vida santa também
tem como marca a prática do amor sincero, e isto Pedro afirma como resultado da
regeneração: “[…] amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados […]” (1Pd
1.22,23 – ARA). Esse amor esperado é o que evidencia que passamos da morte para
a vida (1Jo 3.14), e caracteriza o verdadeiro discípulo de Jesus (Jo 13.35; ver
Rm 12.9; 1Jo 3.18). O amor é a marca do cristão, pois é a evidência mais
eloquente da nossa salvação (LOPES, 2012, p.
58).
CONCLUSÃO
A Palavra de Deus, como regra de fé e prática do cristão, descreve os
princípios divinos que direcionam e guiam a vida do verdadeiro servo de Deus.
Para os que desejam andar na ética do Espírito, devem entender a necessidade de
ter como estilo de vida, a santificação.
REFERÊNCIAS
·
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
·
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de
Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
·
LOPES, Hernandes dias. Comentário
Expositivo 1 Pedro: Com os pés no vale e o coração no céu. HAGNOS.
·
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as
Doutrinas da Bíblia. VIDA.